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Transtornos Borderline e Bipolar: algumas distinções clínicas e neurobiológicas.

  • CARLOS MONTE
  • 25 de abr.
  • 3 min de leitura

Os transtornos Borderline e Bipolar compartilham características clínicas que frequentemente dificultam o diagnóstico diferencial. Ambos podem apresentar instabilidade emocional, impulsividade e alterações de humor. Contudo, são entidades diagnósticas distintas em termos de etiologia, curso clínico, resposta terapêutica e neurobiologia. Este artigo apresenta uma análise comparativa entre os dois transtornos com base em evidências científicas atualizadas.


Introdução


A distinção entre os transtornos Borderline e Bipolar é uma das mais desafiadoras na prática clínica, especialmente na fase inicial do tratamento. Como apontam Paris (2007) e Zimmerman (2010), diagnósticos imprecisos podem levar a tratamentos inadequados e piora no prognóstico. Enquanto o Transtorno Bipolar é classificado como um transtorno de humor episódico, o Transtorno Borderline é um transtorno de personalidade crônico, centrado em padrões de funcionamento interpessoal e autoimagem.


Nossa experiência e trabalho contínuo com pacientes que apresentam sintomas compatíveis com esses diagnósticos, bem como o diálogo clínico com psiquiatras e outros profissionais referidos ao longo deste artigo, fundamentam o atendimento que realizamos na prática. Mais informações podem ser encontradas em ww.psicoevelynbarbosa.com.br.


Aspectos clínicos


  1. Curso temporal


Transtorno Bipolar: caracterizado por episódios distintos de mania/hipomania e depressão, com intervalos de humor estável entre os episódios (American Psychiatric Association, 2013 - DSM-5).


Transtorno Borderline: humor instável e reatividade emocional geralmente ocorrem de forma rápida e situacional, frequentemente em resposta a estressores interpessoais.



2. Natureza das alterações de humor


Transtorno Bipolar: alterações de humor são mais prolongadas, durando dias ou semanas, com sintomas claramente definidos de mania (ou hipomania) e depressão.


Transtorno Borderline: oscilações de humor costumam durar horas e têm forte componente reacional, muitas vezes associadas à sensação de abandono ou rejeição.



3. Impulsividade e comportamentos autodestrutivos


Presentes em ambos os transtornos, mas no Transtorno Borderline estão mais associados a padrões persistentes de desregulação emocional, enquanto no Transtorno Bipolar tendem a surgir durante episódios maníacos ou mistos.



4. Instabilidade interpessoal


Transtorno Borderline é marcado por relacionamentos intensos e instáveis, medo de abandono e padrões de idealização e desvalorização (Linehan, 1993).


Transtorno Bipolar não apresenta essas características como núcleo do quadro clínico.



Aspectos neurobiológicos e genéticos


Estudos de neuroimagem mostram que o Transtorno Borderline está associado a alterações na amígdala, córtex pré-frontal ventromedial e hipocampo, estruturas relacionadas à regulação emocional e controle de impulsos (Silbersweig et al., 2007).


O Transtorno Bipolar envolve disfunções em circuitos fronto-límbicos e alterações na neurotransmissão dopaminérgica e serotoninérgica, com forte influência genética. Estudos de hereditariedade apontam para uma taxa de concordância de até 60-80% em gêmeos monozigóticos (Craddock & Sklar, 2013).



Resposta ao tratamento


Transtorno Bipolar responde bem a estabilizadores de humor, tais como o lítio, o valproato e a lamotrigina, além de antipsicóticos atípicos.


Transtorno Borderline é tratado principalmente com psicoterapia, especialmente a Terapia Comportamental Dialética (Linehan, 1993) e a Terapia do Esquema (Young et al., 2003). Psicofármacos são usados de forma adjuvante e sintomática.



Considerações diagnósticas


Zimmerman et al. (2010) chamam a atenção para a superposição sintomática e o risco de superdiagnóstico do Transtorno Bipolar em pacientes com Transtorno Borderline. O diagnóstico diferencial adequado exige avaliação longitudinal cuidadosa e identificação de episódios maníacos claros, critério fundamental para o diagnóstico de Transtorno Bipolar.


Conclusão


Apesar das semelhanças clínicas, os transtornos Borderline e Bipolar são entidades psiquiátricas distintas, com diferentes etiologias, trajetórias clínicas e intervenções terapêuticas. A compreensão precisa dessas diferenças é fundamental para a conduta clínica eficaz, prevenindo o uso inadequado de medicamentos e melhorando o prognóstico dos pacientes.


Na prática clínica diária, seguimos atentos à complexidade desses quadros e à importância da articulação entre o trabalho psicoterapêutico e psiquiátrico, com base na literatura científica e na experiência interdisciplinar. Caso deseje conhecer mais sobre nosso trabalho, acesse www.psicoevelynbarbosa.com.br.




 
 
 

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